:: 30.1.04 ::

Reflexões de final de Janeiro

Como andam os quadrinhos ultimamente? Será que tudo vai bem, ou será que a crise continua nos torturando? E será que a situação do mercado mina a criatividade dos artistas?

Eu continuo lendo revistas em quadrinhos de super-heróis. Minha mãe gosta (principalmente do Wolverine), então compro todo mês para ela e aproveito para me manter atualizado com a produção da "indústria". Em primeiro lugar, eu gosto das histórias do Grant Morrison para os X-men. Simples e divertida, usando bem (às vezes, até exagerando) as fórmulas clássicas de quadrinhos, brincando com a virada de página e com o clímax do final de cada edição, criando mistérios simples que não afugentam leitor nenhum, as histórias são tão atraentes que a revista tem a qualidade básica dos quadrinhos "independentes": você gosta da história mesmo sem gostar do desenho.

Assim como essas histórias dos X-Men, outros personagens estão ganhando abordagens mais "independentes", histórias legais que se aliam (ou não) ao grande atrativo das HQs: o desenho. Mas em que isso ajuda os artistas?

De algum tempo para cá, a busca por novidades nos quadrinhos de super-herói abriu as portas para artistas que não se encaixam nos padrões pré estabelecidos da moda Você sabe, aqueles que desenham os homens fortões e as garotas peitudas. Então, essa mudança no panorama do mercado possibilitou que estilos diferentes, exóticos para os nerds dos quadrinhos de super-heróis, voltassem às páginas que circulam na mão do grande público. Hoje, um Eduardo Risso desenha a revista do Batman e dá um banho no Jim Lee (que é um rapaz simpático, podre de rico que atualmente está morando na Itália, mas que ficou parado no tempo num estilo que virou uma cópia de si mesmo). Hoje, o Richard Corben desenha para a Marvel personagens como o Hulk e o Luke Cage. A lista continua.

Certo, tá tudo muito bom, mas e os brasileiros?

Quer coisa mais legal do que o Ivan Reis desenhando o Super Homem? O Deodato no Hulk? (Se bem que o Deodato está pisando na bola e também ficou parado no tempo). Melhor ainda, o Marcello Gaú (Quintanilha agora, já que ele viu que virou quadrinhista de verdade) desenha e mora na Europa, ganha em euros e a história não tem ninguém com roupas ridículas de herói.

Tem muito brasileiro desenhando no exterior. Pode estar desenhando a história dos outros, mas está trabalhando. Eu e o Bá mesmo, devagarinho, estamos começando a trabalhar lá fora. Talvez conosco seja mais devagar, queremos desenhar e escrever as histórias, o mercado para isso é menor e o caminho é mais longo, mas já começamos. E, assim como nós começamos, também outros vem vindo. O meu amigo Bruno D'Angelo já lançou duas edições especiais nos Estados Unidos com histórias do Shane (o escritor do Rolando, nosso primeiro trabalho para fora que será em breve lançado no Brasil), uma delas (Lorde Takeyama) publicada no Brasil pela Ópera Gráfica, e trabalha agora numa Graphic Novel, também com o Shane, para ser lançada esse ano.

Então, tá tudo maravilha?

Não. Tudo continua difícil. A quantidade de gibis muito ruins ainda abarrota as bancas e lojas e deixa o que é bom escondido da vista, quando não da própria loja. Cada vez menos gente lê (em geral, não só quadrinhos), cada vez menos gente compra gibi. Mesmo dentro do mercado, não basta apenas você ser bom. Nem sempre o que é bom vende. Nem sempre você está no lugar certo na hora certa. Você precisa constantemente lutar pelo seu espaço, pelo seu trabalho.

E você ainda precisa ganhar dinheiro.

Mas até aí, todo mundo precisa. O importante é que você precisa de algo muito mais do que esse dinheiro: você precisa contar a sua história. E, quando você a contar, alguém estará lá para ouvir.
:: Fábio Moon 6:06 PM [+] ::

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O filme que passa na sua cabeça

A boa história em quadrinhos é como um bom filme ou um bom livro, fica na cabeça da gente mesmo depois que termina. Você fica repetindo certas cenas na cabeça, os diálogos que mais te tocaram, as imagens que você mais gostou. Nesse sentido, seja filme, livro ou HQ, na sua cabeça tudo vira imagem, vira movimento e vira sensação. Na sua cabeça, a página de HQ tem movimento e seus personagens têm vida. Você é a sala de cinema em que é projetado o filme que você acabou de ler.

:: Fábio Moon 4:31 PM [+] ::

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São Paulo

São Paulo é uma cidade linda. É cheia de garotas lindas, é cheia de lindas histórias e quem vive em São Paulo tem a linda sensação de que tudo pode acontecer, porque São Paulo é estranha.

E estranhos são os cantos escuros nos mais variados bairros -todo bairro tem o seu, não há bairro sem graça ou sem sal em São Paulo. Estranhas são as pessoas com quem você cruza todos os dias, que te dizem coisas estranhas que, aos seus ouvidos estranhos, parecem a coisa mais natural possível. Afinal, você está em São Paulo.

São Paulo é uma das personagens das minhas histórias, pois é uma das personagens da minha vida. E ela me é muito querida.

E os entes queridos nós queremos sempre por perto para comemorar o aniversário.

Feliz Aniversário, minha amiga.
:: Fábio Moon 9:09 PM [+] ::

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CHEGOU!!

Hoje chegou o pacote da Dark Horse com nossos exemplares do Autobiographix. São quatro livros!

Precisamos fazer mais histórias, porque a felicidade que dá quando você vê o seu trabalho numa revista ou num livro é inacreditável.

FODAM-SE AS CALOTAS!!

E mais:
hoje saiu um desenho meu na capa do Guia da Folha.
:: Bá 3:17 PM [+] ::

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Dividir pra Conquistar

Eu e o Fábio temos grandes planos para este ano. Aliás, nós sempre temos grandes planos, grandes sonhos, quando se trata de Quadrinhos. Cada um de nós está escrevendo uma história nova, o que obviamente resultará em duas histórias inéditas. Ao invés de pensármos os dois na história, a parte mais demorada e muitas vezes mais importante da produção de Quadrinhos, estamos apostando na variedade.

"O Girassol e Lua" é uma história do Fábio, mas eu ajudei um pouco no roteiro, nas falas e nos acontecimentos da história enquanto estávamos trabalhando nela. "Meu Coração..." é uma história minha, mas o Fábio ajudou muito com idéias tanto gráficas quanto literárias. "Tarde pra Café" foi a única história escrita somente por um de nós, no caso o Fábio, do início ao fim, todas as falas. Desde então, temos pensado e escrito juntos as novas histórias.

Apesar de trabalharmos tão bem juntos, ainda somos duas pessoas diferentes, com opiniões diferentes sobre muitas coisas. Escrevendo separadamente os roteiros, podemos intensificar estas diferenças, ampliando assim o nosso leque de histórias e narrativas, personagens e mundos. Com isso, podemos mostrar nosso trabalho ao público em dose dupla. Além do mais, estamos poupando tempo em cada um dos projetos trabalhando neles simultaneamente, pelo menos enquanto isso é possível.

No entanto, o nosso real envolvimento com as nossas histórias acaba se completando na hora de desenhar. Por maior que tenha sido minha participação no "Feliz Aniversário...", foi o Fábio que desenhou TUDO, mesmo que eu tenha ajudado a pensar em alguns ângulos, solucionar alguns problemas, sei lá. Todas essas coisas que fazem parte do processo de fazer HQs mas que não são visíveis no produto final.

Foi neste ponto que hoje demos um grande e importante passo no desenvolvimento de nossas duas novas histórias. Conseguimos pensar num jeito dos dois desenharem as duas histórias, não somente por diversão, praticidade ou comodismo, mas de uma forma que ajude a contá-las melhor. Eu não vou desenhar toda a minha história e o Fábio não desenhará toda a dele. De uma forma que só aconteceu no "Girassol" e no "Meu Coração" e que nós dois sentimos muita falta e tentamos o tempo todo conseguir fazer novamente, nós dois vamos desenhar a mesma história.

:: Bá 7:15 PM [+] ::

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Saiu no Omelete

Saiu uma pequena resenha (mais uma nota do que um comentário) sobre o Autobiographix no Omelete.
:: Fábio Moon 3:28 PM [+] ::

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Como já foi divulgado aqui, tem um pessoal organizando uma Convenção de Quadrinhos em Bauru, interior de São Paulo, e eles nos convidaram pra participar. Inicialmente marcada para o fim do ano passado, ela vai acontecer de fato depois do Carnaval, do dia 1º de Março até o dia 7, sendo que no fim de semana (dias 6 e 7), acontecerão palestras e workshops com convidados, incluindo Laerte, Fernando Gonsales, Lourenço Mutarelli, muitos outros e nosotros.

Estaremos fazendo um workshop de arte-final e dando uma palestra Contador de Histórias, não de piadas, sobre fazer HQs sérias e encarar o trabalho pelo seu potencial literário.

Quando tivermos mais informações de datas e horários, vocês já sabem aonde procurar.
:: Bá 2:42 PM [+] ::

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Primeiros números

Tendo começado nossa jornada dos quadrinhos com o fanzine, estamos acostumados (e talvez viciados) a acompanhar todo o processo do mundo dos quadrinhos. Já faz tempo que não tiramos xerox, dobramos e grampeamos cada fanzine, semana após semana. Nossa última revista, Feliz Aniversário, Meu Amigo., foi uma refrescante volta ao contato direto com o público, vendendo de mão em mão, durante dois meses sem parar, antes de entrar em contato com a DEVIR.

Nossa mais recente história, publicada no álbum Autobiographix, da Dark Horse, já saiu e ficamos aqui, como espectadores distantes, esperando notícias de como o livro e a história estão sendo recebidos. O primeira notícia vem na forma de um número, o mais familiar possível para aqueles que lêem e conhecem o nosso trabalho.

10.

O álbum foi o décimo (álbum original, livro ou encadernado) mais vendido no mês de dezembro pela Diamond (distribuidora de quadrinhos nos Estados Unidos).
:: Fábio Moon 5:42 PM [+] ::

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SAIU HOJE NO BALÃO

Talvez as histórias em quadrinhos nacionais não chamem tanta atenção quanto o cinema nacional, mas talvez esse anonimato garanta que as críticas feitas aos novos lançamentos sejam honestas e interessantes. Essa foi a minha impressão da coluna do Diego Assis que saiu no Folhateen de hoje. Segue a coluna para que vocês leiam e comentem:

Estranha terra estrangeira

DIEGO ASSIS, da reportagem local

Acabo de ler "Qu'est-ce que C'est", nova história dos irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, 27, que foi escolhida para figurar entre os figurões da HQ gringa na antologia "Autobiographix", lançada pela americana Dark Horse.
O que teria feito uma inocente viagem pelos museus de Paris terminar com "Em um lugar estranho, com gente estranha, falando uma língua ainda mais estranha, nos sentimos sozinhos"?
Pouco importa. Como de costume, as histórias dessa dupla, conhecida por aqui pela série "10 Pãezinhos", nos transportam para além das páginas do gibi.
Eu pensei no Brasil. Em como neste ano que passou o país foi notícia nos quatro cantos do mundo. "Cidade de Deus" foi um dos melhores filmes do ano, segundo o "NY Times". A passarela virou fichinha para Gisele Bündchen. Nosso ministro da Cultura tem dreadlock no cabelo. Mundo Livre S.A., D2 e Los Hermanos lançaram alguns dos melhores discos de 2003. E (por que não?) nossos "supergêmeos" da HQ foram publicados ao lado de Will Eisner, Aragonez, Eddie Campbell e Frank Miller!
Pode parecer oba-oba. Não é: chame de globalização, assimilação cultural ou seja lá o que for, mas a arte brasileira não tem devido nada a ninguém há muito tempo. As oito páginas de quadrinho autoral de Fábio Moon e Gabriel Bá são só mais um exemplo disso. O Brasil é cool!
:: Fábio Moon 4:19 PM [+] ::

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"O que vocês andam fazendo?"
"Quais são seus planos para 2004?"

Muita gente gosta de Histórias em Quadrinhos, muita gente lê e nem tanta gente faz. Mas quem sabe como se faz uma HQ?

É muito mais do que o produto final que você encontra na banca e lê, muito maior do que a primeira idéia que o autor teve, muita mais do que o primeiro rascunho e o último traço que o artis fez.

Fazer HQ é como viver a vida, que no fundo é a mesma para todos, mas cada um tem sua própria história pra contar e o seu jeito de ver as coisas, sendo elas as mesmas ou não.

:: Bá 8:36 PM [+] ::

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Nossa história - parte 6

Dezembro, assim como Novembro, acabou. E do mesmo modo chegamos ao fim de 2003. Como refletir sobre o ano e como começar 2004 com ritmo e energia? Com uma história.

A nossa história.

Entre Novembro e Dezembro, o álbum da Dark Horse "Autobiographix" seria lançado nos Estados Unidos e chegaria às nossas mãos - e às de muitos outros. Que melhor modo de preparar o terreno para esse novo lançamento do que contando um pouco do processo da criação da história e o longo caminho percorrido até conseguir publicar nosso trabalho, nossas idéias e nossas histórias mundo afora?

Dia trinta e um, véspera de ano novo, estávamos eu e o Bá junto aos entes queridos na praia. Todos vestindo branco, todos muito felizes, todos admirando os fogos de artifício e fazendo a contagem regressiva. Não muito distante da praia onde acendemos nossas velas e pulamos nossas sete ondas, na mesa da sala, um livro repousava ao lado de cartas de um baralho. Na capa, ilustrada por Will Eisner, um vulto de homem, um homem comum que poderia ser qualquer homem (e, de fato, era). Dentro do livro, várias histórias autobiográficas, contos intimistas e reflexões reais dos mais variados autores da história em quadrinhos da atualidade. Entre eles, mais especificamente entre o Eddie Campbell (artista de Do Inferno) e Stan Sakai (criador do Usagi Yogimbo), a história de dois irmãos que viajaram para a Europa e o que aconteceu com eles quando passaram por Paris, uma história que nós sempre contamos aos nossos amigos e que, agora, será contada até o final dos dias.

Um novo ano começa e novas histórias nos esperam.


:: Fábio Moon 4:11 PM [+] ::

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